O
ano era 2010. Cássia Cristiane acompanhava sua filha mais velha em
procedimentos de pré-natal, de gravidez de risco e teve que
pernoitar ao ar livre, em um pátio do Hospital do IMIP. Durante a
madrugada, ao pestanejar, foi surpreendida por um assalto a mão
armada. O prejuízo foi um celular simples e um trocado. A
humilhação, a memória do esbulho, entretanto, jamais foi
esquecida.
Assim
como ocorreu com ela, acontece, quase todos os dias, nas cercanias
das unidades hospitalares de saúde de nossas capitais. Ficou, ao
lado da marca traumática, o desejo de mudar, de fazer alguma
diferença.
Oriunda
e, então, moradora das terras agrestes de Taquaritinga do Norte,
logo depois, teve a oportunidade de administrar uma casa de apoio
pertencente à municipalidade de lá do seu lugar.
Começou
assim, a aprender a lidar com o drama humano de milhares de pessoas
do interior, que vêm à capital para “tratamento fora de
domicílio”, o famoso “TFD”. Por dois anos, praticou uma
verdadeira militância pelo atendimento e amparo hospitaleiro aos
pacientes e acompanhantes de seu município. Dotada de espírito
indômito, com o tempo, passou a se sentir cerceada na amplitude de
seu desejo de acolher toda aquela gente sofrida, que assistimos vagar
pelas calçadas, nas ruas e praças adjacentes aos hospitais
públicos, pincipalmente, aqueles de referência.
O
conflito entre a vocação altruística e os limites e distorções
de uma burocracia insensível aos seus apelos por uma prática mais
eficaz da ação social, acabaram por levar a sua demissão. Todavia,
este fato seria o gatilho para um novo empreendimento social.
Assim,
em 12 de janeiro deste ano de 2015, passou a existir, concretamente,
a “Casa de Apoio ACOLHER COM AFETO”, resultado do esforço
conjunto, fortalecido por amigos e familiares, que tomou forma com a
presença de Marcelo Cavalcanti, seu companheiro e antigo militante
de causas sociais, que, resolutamente, assumiu a eu lado, a frente
executiva da nova entidade.
A
partir daí, um novo cenário passou a se descortinar. Sem os limites
municipalistas, a nova Casa abriu horizontes e já contabiliza o
atendimento a pacientes de mais de 50
cidades, das quais, 44
de Pernambuco. A média de atendimento mensal atinge a marca de cerca
de 200
pessoas. Não há limitação de horário. A “Casa de Apoio ACOLHER
COM AFETO” trabalha “full time”.
Porém,
tudo isto se mostrou insuficiente. Acolher, oferecer uma refeição,
um lugar para repousar é importantíssimo, mas, não é tudo. Em
agosto, foi firmada uma parceria com o grupo “Partilhar” e
semanalmente, alguns pacientes e acompanhantes vão até a sede deste
grupo e participam de uma tarde de terapia ocupacional, com
assistência pessoal realizada por psicólogas experientes. Também,
nas quartas feiras, pela manhã, uma psicóloga visita a sede da Casa
de Apoio e passa horas de convívio participante, sendo bastante
solicitada e querida. pelos presentes na Casa. Ainda, realizamos, de
modo eventual, passeios lúdicos, com a finalidade de elevar o ânimo
e o humor dos acolhidos.
Muitas
dessas conquistas foram alcançadas através da inclusão da
instituição na plataforma do “Transforma Recife”. A partir
desta inserção, multiplicaram-se os voluntários e amigos da
missão, possibilitando uma abertura do leque de ações da entidade.
Atualmente,
diversas campanhas estão em curso para melhorar e ampliar nosso
atendimento. Muitos desses projetos são possíveis graças ao uso da
plataforma de convite ao voluntariado.
Queremos
melhorar e aumentar o atendimento aos nossos acolhidos. Precisamos
desde colchões, material de limpeza e cestas básicas, a reparos na
sede. São inúmeros itens de que a Casa de Apoio carece.
Estamos
em plena crise econômica, contudo, envolvidos, dispostos, buscando
os meios de superação das dificuldades, aparentemente,
conjunturais, acreditando no valor do amor “caritas”, na
importância da prática da assistência social, na eficácia da
filantropia como ferramenta de construção democrática, de ação
solidária efetiva, sem os delírios, supostamente, utópicos, que
levam a perversões sociais desumanizantes.
Costumamos
reafirmar a frase da Presidente, Cássia Cristiane de que,
“se não amarmos ao próximo, a quem vemos, como amaremos a Deus a
Quem não vemos?”
... E assim, caminhamos.
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